27 de fevereiro de 2012

Comer Lendo


Qual foi o cardápio servido na última ceia do Titanic? Quem inventou um dos maiores curingas das cozinheiras, o caldo de carne em cubinhos?
Essas e outras histórias estão em “O Ganso Marisco e Outros Papos de Cozinha”, de Breno Lerner, uma delícia para quem gosta de comer e ler – ou comer lendo.
O capítulo que dá nome ao livro já justifica a leitura. Ele fala de uma lenda envolvendo uma espécie de ganso que vive nas regiões árticas e, no inverno, para procriação, migra para as costas da Inglaterra, Escócia e Irlanda. Ao migrarem, eles se alojam em árvores e troncos de rochedos à beira-mar. Os pais nunca alimentam seus filhotes. Eles têm de descer para comer algas e outras plantas. Ou seja, têm de pastar.
Hábito tão peculiar acabou gerando a lenda de que esses gansos nasciam em árvores – pendiam de conchas ali penduradas. Quando estavam com o corpo já formado, caíam na água e saíam nadando ou voando.
Segundo Breno, a história acabou indo tão longe que padres da época (por volta do ano de 675) permitiam que seus fiéis comessem o ganso marisco nos períodos de abstinência da carne já que marisco não podia ser considerado bicho.
O famoso e folclórico Baile da Ilha Fiscal também é citado no livro.
Realizado com o intuito de mostrar ao Brasil e ao mundo que tudo ia bem com o Império, o megaevento teria custado 150 mil contos de réis. O detalhe é que 100 mil foram retirados de uma doação de emergência criada para os flagelados da seca no Ceará.
Ao descobrir que havia perus no cardápio, o ministro das Relações Exteriores ficou preocupado com o que pensaria a comitiva do governo peruano. Mandou então que escondessem as aves no porão e que não fossem servidas. A notícia vazou e um grupo de nobres senhores subornou o dono de uma embarcação para furtar os perus, mas acabaram descobertos pela polícia e presos.
Há diversas outras curiosidades no livro de Breno, que é superintendente da Editora Melhoramentos.
Suas pesquisas duraram 12 anos e não se restringiram ao Brasil. Ele conta que “desgraçou” diversas viagens de férias da família porque sempre queria passar em alguma biblioteca, museu ou entrevistar alguém que pudesse lhe tirar uma dúvida. No Cairo, foi parar na delegacia depois que fez fotografias (proibidas) de inscrições e pinturas de cenas culinárias num sítio arqueológico.
Breno revela também que já está escrevendo seu próximo livro, que vai tratar de Inquisição e culinária, “um período no qual uma pessoa podia ser morta pelo o que ela comia ou pelo que ela deixava de comer”, diz o autor.
A Alheira – uma típica receita portuguesa – foi inventada pelos judeus nessa época. Para que a recusa deles em comer linguiça não fosse vista com estranheza, eles criaram um embutido que era recheado com miolo de pão, alho e gordura de galinha.

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